56. A Ilha de Vulkan

Vandu, tigunar comandante da ACAFAM, Gargo Gigantrix da Hokhe.

[Antes: 55. A Era dos Dragões]

Para cruzar o Mar de Hill, os enormes Ravens de Tudur e Hagen eram a melhor alternativa. Na gigantesca águia cinzenta, conduzida pelo Hevelgar, seguiriam Lend, Vandam e Vandu, o líder da missão. No escarlate, Hagen levava Sif, Bia e Kreuber.

– Hagen, você vai na frente. – Comanda o gigante tigunar, lembrando ao grupo:

– Serinho, hein galera? O velho tem cornucópia e o caralho. Só vai professor. Todos aqui serão necessários. Quem quiser peidar, peida agora pra não peidar depois.

Assim que levantam voo, no entanto, Kreuber deixa clara a sua filosofia:

– Esse negão pode comandar geral, mas a mim não. Eu não trabalho com chefia. Estamos no mesmo barco.

O início da viagem é marcado por aquela tranquilidade preocupante do Mar do Hill: tempo bom, mar calmo, brisa quente, passarinhos cantando. Vandu comenta:

– Aproveitem a linda vista.

Mas, quando já se encontravam em alto mar, no início da noite, uma tempestade sinistra toma conta da área de forma repentina. De repente, o mar fica cabuloso, com ondas gigantescas, e pingos de chuva grossa chegam a machucar a pele. Raios e trovões por toda a parte. De tão fortes, os ventos começam a desestabilizar o voo dos Ravens. Bia tenta se comunicar com os peixes e pássaros do local, para saber o que estava acontecendo. Após o transe, ela avisa ao grupo, formando um elo mental:

“O temporal é uma defesa da própria ilha contra invasores. Essa ilha… parece viva!” – Mentaliza Bia, incrédula com a descoberta.

– Seria bom voarmos mais perto do mar. Caso ocorra alguma rajada de vento mais forte, não ferra a gente na queda. – Sugere Lend, no outro Raven, com a ressalva: – Mas sem ir muito rente ao mar, para não dar mole para as ondas…

– Podemos voar acima da tempestade, Tudur? – Pergunta Vandu.

– Pelo tamanho gigante dessa tempestade, o Raven não conseguiria voar tão alto. – Responde o arauto.

– Então vamos tentar contorná-la. – Diz Lend, enquanto observa o mar para ver se há alguma embarcação na região. Nada.

Vandu concorda. A um sinal, os animais alados se inclinam para oeste, de forma a tentar se desviar das nuvens negras. Mas após alguns minutos já está claro que a tempestade forma exatamente um tipo de redoma sobre a ilha.

– Porra! – Exclama Vandu.

– Podemos tentar mergulhar também… – Sugere Kreuber, no Raven escarlate.

Bia repassa a ideia para o outro grupo, mas Vandu reage:

– Nadando não, pois perderíamos os Ravens. Melhor continuar voando ao redor, para esperar essa tempestade passar.

Após cerca de mais uma hora voando ao redor da ilha, não havia nenhum sinal de que o temporal se enfraqueceria. Vandu então questiona Tudur:

– Quanto tempo esses Ravens aguentam?

– Pelo menos mais seis horas. – Responde Jon.

No outro grupo, Kreuber começa a ficar preocupado:

– Galera… Aqui é território de Inferon. Enfrentar a tempestade é até melhor. Menos chances de ele ver a gente.

Bia arregala os olhos, e forma novamente o elo para avisar a todos.

– Calma. Vamos continuar voando. – Responde Vandu.

– Acho que temos de partir pra dentro. – Rebate Lend.

– Vamos lá, porra. – Insiste Kreuber.

– Por favor, apenas uma hora a mais. Essa porra pode acalmar. – Diz Vandu.

Mas não acalmou. Na verdade, parecia até piorar. Os raios e trovões se tornavam ainda mais assustadores. Vandu se conforma com a decisão:

– Porra. Pra dentro então. Voando rápido.

Todos se agarram ainda mais firmes aos assentos na cela de cada Raven. Quando os dois grupos adentram o mau tempo, Bia logo pressente a presença de dracos pela região. Pelo menos seis. Os predadores eram bem menores que os Ravens, mas eram mais ágeis.

– Temos que matar esses bichos para não deixar rastro. – Diz Vandu.

– Solta umas brumas aí, Lend! – Pede o tigunar.

– O vento vai dispersar a bruma. Não adianta. – Responde Lend.

– Cadê o arqueiro? – Questiona Kreuber.

– Isso! Prepara as flechas, Vandam! E tá na hora de usar a sua mira infalível, escarlate! – Diz Vandu.

Os dois grupos começas a avistar os dracos se aproximando. Vandu exclama:

– Já sei! Bia, tente chamar alguns pássaros!

Bia então se concentra e consegue atrair a atenção de uma grande revoada de velozes albatrozes peregrinos, que voavam naquela região. Com algum esforço, ela conduz o bando com mais de quinhentas aves na direção dos dracos. Assustados com a quantidade de pássaros, no meio daquela tempestade horrível, os predadores alados acabam se desviando da rota.

– Ufa! Voando, pessoal! – Exclama Vandu, enquanto continuam avançando em direção à ilha.

– Vamos apertar o passo! Ou melhor, as asas! – Diz Lend.

Tudur e Hagen se esforçam para controlar os Ravens enquanto se aproximam do olho da tempestade. Mas, após alguns segundos de quase pânico, a tempestade subitamente se dissipa, da mesma forma como tinha começado. Os dois grupos então começam a avistar, ainda ao longe, a misteriosa Ilha de Vulkan, com seu imponente monte central. Ainda era noite, mas o brilho das três luas proporcionava ao grupo uma visão deslumbrante da ilha:

Na encosta do vulcão, em quase todas as direções, já era possível avistar as cidadelas vulkânicas. O clima era quente, muito quente, e úmido, com praias paradisíacas tomando toda a costa. Ao avistar aquela beleza de lugar, que ninguém esperava encontrar após uma tempestade negra, Bia exclama:

– Mas isso é um paraíso!

– Sim, um paraíso apropriado para Dragões de Fogo. – Devolve Kreuber.

Bia aponta para o topo do vulcão, e forma um novo elo mental:

“Tão vendo aquela cratera gigante? As lendas dizem que é um um território proibido para os habitantes. A cidade sagrada dos nativos”.

– Acesso proibido é foda. – Diz Vandu.

– Tudo pode ser proibido. Depende de quem acata ou não. – Provoca o cavaleiro das Terras Altas.

– Boa essa teoria… – Responde Lend, já gargalhando, junto com Vandu.

O calor aumentava exponencialmente enquanto se aproximavam, e o vapor denso que era produzido na cratera já tomava os arredores. Kreuber resolve fazer mais uma piada infame:

– Duvido achar uma pedra de gelo por meu rum…

– Beleza. Local paradisíaco, quente pra caralho e com perigos que podem te matar a qualquer momento. Estamos em Joy Divile. – Brinca Sif, fazendo troça com uma das cidadelas mais perigosas do Império Velga.

Bia volta a fazer um elo mental com o grupo:

“Provavelmente teremos que entrar lá naquela cratera fumegante para achar a cripta subterrânea onde Zama está hibernando.”

Com a aproximação, já dava para ver os pequenos casebres de cor laranja, tomando a encosta do vulcão. Mas o que começava a chamar muito a atenção, mesmo com a visão de longe, era a pouca roupa dos nativos, que andavam quase nus. Entre eles, parecia haver várias mulheres nas praias, praticando algum tipo de ritual:

“Vamos descer na ilha, pessoal” – Anima-se Vandu, antes de concluir: “Aí começa a merda”.

“Acho melhor. Já comecei a gostar dessa ilha”. – Concorda Lend, enfatizando o pensamento no elo mental, o que provoca um certo ciúme em Bia.

“Olha só, galera… Sou um cara meio simplista. Por mim traçamos uma reta direta para a cratera proibida”. Sugere Kreuber, explicando: “Ficar nesse calor não é bom”.

“Então a gente desce e tu vai andando na frente de batedor, molecão”. Responde Vandu, continuando o pensamento:

“Depois a gente reveza. A missão é séria”.

“A temperatura aumentou, galera”. – Diz Kreuber, enquanto avista uma movimentação nas praias.

Cerca de vinte estranhos animais alados tinham levantado voo na direção deles. A cabeça era de aves de rapina, como os Ravens, mas eram bem menores, tinham quatro patas e o corpo musculoso de um felino. E rabos longos, como os de um draco. Cada um carregava um guerreiro vulkânico armado com arcos.

– Ihhhh… Parou. – Comanda Vandu.

– Porra… – Lamenta o tigunar, que já estava começando a pensar nas nativas.

[Continua: 57. Ataque ao Posto]

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