59. No Caminho da Cidadela

Vandam, vrúngio, sacerdote de Hoguz.

[Antes: 58. Os Dotes de Danda]

Quando Vandu sai do posto arrastando o corpo de Danda, Jon Hagen acena negativamente com a cabeça, mas não fica se lamentando:

– Com a memória deles, já podemos traçar o melhor caminho para a cratera.

– Segue o baile. – Diz Jon Tudur, embora também preferisse manter a nativa viva.

– Essa ilha é foda. – Afirma Vandu, arremessando mais um corpo na areia.

– Como já passaram a Danda no fio da espada e no fio da piroca, acho que o mago podia fazer mais uma necromancia com a danada. – Comenta Vandam, já arrastando o cadáver da vulkânica na direção de Sif, para que ele pudesse acessar as memórias.

Enquanto o necromante inicia mais um ritual, o resto do grupo pensa no que fazer:

– Temos que sumir com os corpos. – Diz Hagen, sugerindo: – Bia, pode pedir para aqueles golfinhos levarem os cadáveres para o fundo do mar?

A sacerdotisa fecha os olhos, emite alguns ruídos e começa a tentar se comunicar com os animais marinhos. Em poucos minutos, os golfinhos aparecerem perto da praia. Enquanto isso, Sif já repetia para os demais as visões que estava conseguindo: Danda era de fato uma meretriz requisitada na ilha. A nativa vivia em um templo com outras mulheres da mesma profissão, atendendo principalmente aos guerreiros. Ela costumava frequentar inclusive os postos de guarda no alto da encosta, que impediam o acesso à cidade sagrada. A prostituta realmente conhecia o caminho para o alto da cratera, mas não sabia onde se localizava a cripta onde Zama estava hibernando. Pouquíssimas pessoas em Vulkan sabiam.

– Olha aí.. Acho que ela ainda seria útil para nós. – Lamenta Tudur.

– Puta que o pariu. Agora fudeu. – Concorda Vandam, antes de mandar uma indireta para Lend: – Podíamos ter subido comendo ela e a Bia direto.

– Eu vou é jogar uma bruma pra te deixar impotente, Vandam… Quando tu estiver dormindo. Vai ser tão forte que até sua lança vai ficar mole. – Responde Lend, entrando na brincadeira.

– Vai nada. Tu vai é guardar a tanga do guarda de lembrança. – Aproveita Hagen, devolvendo a provocação.

– Que isso, Lend? Tu é meu parceiro. Só vou empurrar na Bia um pouquinho. – Brinca o monge, enquanto a sacerdotisa continuava em transe, se comunicando com os animais marinhos.

– Desculpem, galera. Quando a buceta é fácil meu pau desconfia. Porra! Agora vocês vão ficar de onda por causa de mulher? – Diz Vandu, sério.

– Que se foda a Bia, negão. Meu negócio é furar o olho desse Bruma chifrudo. – Rebate Vandam, rindo, enquanto usa a Cornucópia Safira para ridicularizar Lend.

– Fura olho do caralho… Hahahaha! – Gargalha Hagen.

– Agora vocês podem brincar. Mas eu quero ver o grupo unido, sem palhaçada. Vim nessa porra enviado pela Clave. Por bem ou por mal temos de cumprir o objetivo. Eu disse no início que a missão era séria. O importante é que estamos avançando no território inimigo sem perder vidas. O Rei Hagen quer vida longa para o nosso povo!

Todos escutam com atenção o breve monólogo do líder da missão, mas assim que Vandu termina caem na gargalhada. Não tinha mesmo como levar aquilo a sério. Mas o tigunar continua com suas pequenas diatribes:

– Se algum desses magos quiser é só entrar em contato mental com o Rei e perguntar se ele quer me tirar da liderança desse grupo. Aceito tudo. Confio em todos, e ouço todo mundo. Quero completar logo a missão e ficar bem com o Rei, que sempre foi muito bom para mim. E odeio dragões! Claro que também espero arrumar um bom tesouro, pra gastar tudo em bebida, dente de leão e prostitutas. Work hard, play hard! – Conclui Vandu, usando uma expressão dos bárbaros.

Todos voltam a gargalhar com o jeito ignorante e sincero do gigante tigunar.

– Relaxa, negão. Eu era contra matar a danada, mas matou já era. E se alguém realmente quisesse ela viva, teria tentado impedir. – Diz Lend, tentando amenizar o clima.

– Eu gosto de dragões. Eles têm personalidade. – Rebate Kreuber.

– Eu os odeio como inimigos, mas é verdade. Eles têm personalidade, e são fodas. – Aceita Vandu, já conclamando o grupo a continuar: – Temos de seguir caminho até o vulcão.

Com a ajuda de Hagen e Vandam, o tigunar arrasta os três cadáveres para a água. Os golfinhos logo se encarregam de levá-los para longe, e Bia retorna à consciência:

– E então? Como faremos para atravessar os campos, na direção da cidadela? – Pergunta a sacerdotisa de Virgo.

– Vamos seguir o caminho que vi nas memórias de Danda. Posso guiar o grupo até lá. – Afirma Sif.

– Sim, acho que morto não mente. – Diz Vandam, já puxando assunto com Bia: – Então, Boa… Ops! Bia… Quando a gente voltar, a gente podia ir numa taberna que eu conheço, muito agradável, são poucas brigas que rolam lá… Podemos tomar uma caneca de cerveja e comer um porco assado. Como amigos, sem maldade nenhuma.

A sacerdotisa olha com nojo para o monge carcomido, e nem responde.

– Por falar nisso, vamos andando, molecão. – Diz Vandu, se referindo ao Escarlate. O tigunar continua: – Quem está descansado vai de batedor. Vamos em frente. Vai você, Hagen? Temos que chegar na cripta de Zama e cercar a área, pra ninguém acordá-la.

– Mas o grupo não tem como passar despercebido. Somente eu e Kreuber somos vulkânicos. – Diz o Arauto de Milenor.

– Também quero chegar e achar logo esse Vitiligo. – Diz o cavaleiro das Terras Altas.

Seguindo por um dos canais construídos pelos nativos para irrigar os campos e plantações da ilha, o grupo chega com certa tranquilidade, quase de manhã, aos arredores da cidadela que ocupa toda a encosta. De longe, podem perceber pelo menos três guerreiros vulkânicos em um posto de vigia. Beirando a estrada que segue para o alto do vulcão, há muitas plantações de arroz, áreas alagadiças que dificultam a movimentação, permitindo que os guardas vigiem todo o entorno, usando arcos de grande envergadura. Não havia mais ninguém por ali. O calor da manhã era quase insuportável, o que tornava compreensível o fato de os nativos andarem quase nus.

– Podemos amarrar uma bruma do sono numa flecha, e arremessar no posto. – Sugere Lend, enquanto entrega uma de suas peças de vidro para o monge.

Como o resto do grupo continuava calado, o chefe da Bruma continua:

– Ou então Bia tenta contato com alguma ave, e ela deixa a bruma lá.

– Como sou arqueiro prefiro a solução da flecha. Eu garanto. – Diz Vandam, cheio de marra.

– O que acha, Bia? – Pergunta Lend.

– Entrar em contato com um pássaro não seria difícil, mas não posso garantir que o bicho consiga fazer a parte dele. – Responde a irmão do falecido Jim.

– Pensando aqui, acho que a flecha chamaria menos atenção. E também seria mais difícil dos caras evitarem. – Diz Lend, já fazendo outra pergunta à sacerdotisa: – Bia, há algum outro animal de grande porte por aqui, como lobos, que você pudesse mandar para o posto?

Com a resposta negativa, Vandam se adianta, amarra a bruma na seta e solta a flecha.

– Calma aí, cara… Vamos fechar o plan… – Diz Lend, concluindo a frase quando Vandam já tinha agido.

– Shhhh… Agora já foi. – Desdenha o vrúngio.

Mas a flecha erra o alvo, caindo ao lado do posto e chamando a atenção com a fumaça. Vandam não podia contar com uma rajada de vento soprando exatamente naquele momento.

– Aí apressadinho… Olha a merda! – Exclama Lend.

O grupo observa com horror quando os guardas do posto disparam pela torre uma salva de fogos de artifício, o que claramente era um sinal de alerta.

– Agora fudeu! – Diz Tudur, arregalando os olhos.

– Porra! – Lamenta Vandam.

– Bêbado de merda… – Resmunga Bia.

– Tá vendo? Pinguço é foda. Erra tudo. – Afirma Vandu, rindo de nervoso.

– É a porra dessa mania de meter a cara sem esperar a opinião dos outros. – Reclama Hagen.

– Calma aí, galera. Sacanagem… – Diz Vandu, tentando apaziguar as coisas.

Todos se entreolham, sem saber que fazer. Seja o que fosse, teria de ser bem rápido, pois logo chegariam reforços.

[Continua: 60. Luta no Charco]

Deixe uma resposta