Haia Kahn, vulkânico de Darklands, Cavaleiro da Bruma.

[Antes: 95. O Espião em Galen]

– E então, galera? Qual vai ser a rota para Galen? Vamos a pé ou de cavalo? Seguimos pela estrada nova da Muralha até Luke, onde podemos tentar arrumar um barco ou subir uma trilha pelas montanhas? Ou vamos de peito aberto pela planície, atravessando o Vale dos Reis até a Alta Gaules?

Toni Ferro tinha praticamente resumido as opções do grupo. Como sempre, o Gargo da Hokhe tinha acabado de acender mais um charuto de Dente de Leão, que ele fumava sem parar. Aos 45 anos, o velga de Van Hal era conhecido pela tranquilidade absurda com que liderava seus grupos, o que paradoxalmente quase sempre deixava os comandados muito nervosos.

– Vamos a pé, pela estrada da Muralha. – Sugeriu Haia Kahn: – Somos um grupo de infiltração.

De Echen a Luke, eram pouco mais de 50 Km de estrada de pedra até Luke.

– Prefiro ir a cavalo. – Ressaltou Suva Kaun, recentemente promovido a Destinado, logo após ter vencido o duelo contra Panzer Reich: – E pela Muralha, vocês sabem, vai ser sinistro… Maior escarradeira. Mas vou com a maioria.

– Vamos pela planície, galera. Acho melhor irmos montados, à noite. – Afirmou Stut Bier.

– Isso que pensei. Podemos estar sendo espionados também… – Alertou Suva.

– Então sou voto vencido. Tranquilo. Vamos pela planície. – Aceitou Haia.

– Acho melhor um DK ir pela Muralha, e os outros vão pela planície. – Disse Ferro.

– Boa. Haia e Merlin vão pela Muralha, e o resto vem comigo. – Concordou Stut: – Assim todo mundo fica satisfeito.

– Não se trata de ficar “satisfeito”. – Incomodou-se Haia: – Só estava dando minha opinião. Mas se quiserem eu vou pela Muralha.

– Haia vai com a gente. – Afirmou Suva: – Vamos precisar de todos. Quero união na missão.

– Ir os oito cavalgando na planície vai chamar muita atenção, negão. – Explica Ferro: – Se for seis, já acho que teremos que dividir em dois grupos…

– Então vamos nos dividir para nos encontrar mais à frente: – Sugeriu Haia.

– Calma, Haia. Somos um grupo. – Pediu Suva.

– Estou sempre calmo, irmão. – Rebate o Cavaleiro Dokhe.

– Temos que lembrar que só um grupo vai levar a caixinha com a Aurora da Morte. – Ressalta Eris Van Vossen, tendo as palavras complementadas por sua irmão gêmea, Eril:

– Se o outro grupo chegar lá sem ela, a missão perde o sentido.

– Então vai eu e a ruiva com a caixinha, pela Muralha. – Provoca Ferro, referindo-se a Eris: – E vocês seis vão de bonde pela planície. A gente se encontra depois nas montanhas, antes de Galen. A ruiva e a morena podem se comunicar à distância.

– Por que não vamos todos pela Muralha? – Insiste Haia: – Acho bem mais discreto. Vamos votar.

– Não. – Interrompe Ferro, fazendo troça: – Primeiro eu decido se vamos votar ou eu decido essa porra sozinho. E eu voto que vou decidir sozinho.

– Vai ser perigoso. Quero que todos cheguem inteiros para a hora decisiva. – Diz Suva.

Haia também não gosta das palavras do líder da missão, e rebate:

– Então fala aí como você quer, chefia.

– Chefia é a minha pica. – Irrita-se Stut: – Já tá pagando pau.

– Pagando pau é o meu ovo, Stut. – Rebate Haia.

– Só tem maluco… Calma aí, gente. – Pede Suva.

– Votar é o caralho, molecada. Isso aqui não é a Clave não, porra. Vamos decidir na moral, caralho. Quem tem o melhor argumento? – Replica Ferro.

– Eu não confio na Muralha. – Reforça Stut.

– Nem eu. – Concorda Suva.

– Na Muralha estaremos menos expostos do que em campo aberto. – Argumenta Haia.

– Se continuar nesse nível a discussão, vai eu e a ruiva pela Muralha, e vocês vão de galera pra chamar a atenção dos inimigos na planície. – Diz Ferro, dando mais uma tragada e começando a rir.

– Vai com o teu chefinho na Muralha, Haia. – Provoca Stut: – Do jeito que você quer.

– Já disse que vou por onde a maioria decidir. – Responde o Cavaleiro Dokhe: – Vamos dividir o grupo?! Prefiro ir todo mundo junto.

– Então vai com eles, campeão. Se vocês puderem chamar bastante atenção na planície, melhor ainda… – Diz Ferro, rindo, para Haia, que responde rispidamente:

– Fui o primeiro a sugerir ir pela Muralha. Quer fazer graça?

– Porra, Haia! Decide aí! – Exclama Stut.

– Vem com a gente então, campeão. Hahahaha!  – Sugere Ferro, gargalhando com a discussão: – Alegria do palhaço é ver o circo pegar fogo!

– Essa fantasia não cabe em mim, chefia. – Responde o Cavaleiro Dokhe, devolvendo a ironia.

– Eu e Eril, Suva e Arley vamos pela planície. – Decreta Stut.

– Toma conta da morena aí pra mim, negão… – Diz Ferro, provocando o tigunar da família Bier.

– Toma conta você da ruiva, porque senão eu dou conta das duas… Se tu bobear vai ficar chupando calango na muralha. – Rebate Stut.

Ferro continua rindo, e completa:

– Então vai o bonde de Joy Divile pela planície, com a morena, e o bonde da Bruma parte pela Muralha. Fechou?

– Já falei que quero união. – Insistiu Suva.

– Acho errado dividir o grupo nesse momento, sem necessidade. – Concorda Haia.

– Eu acho que Ferro está errado. Temos que misturar. – Sugeriu Stut: – Vai uns Brumas com a gente pela planície, e uns guerreiros pela Muralha. E eu gosto da caixinha perto de mim.

– Oito cocadas pela planície eu não vou nem fudendo, molecada. – Decretou Ferro, com uma forte baforada.

– Vou pela Muralha com meu DK. – Afirmou Haia Khan.

– Vai com os caras, campeão… Eles precisam da Bruma! – Zomba Ferro, antes de continuar provocando: – Ou então faz o seguinte: vai tu e o mago Merlin com a caixinha pela Muralha, e eu vou com a ruiva com o bonde da planície. Fechou?

– Dá a ordem e eu vou seguir, chefia… – Responde Haia, já cansado da discussão.

– Vai com ele, Haia. – Devolve Stut.

– Chega, porra! Vou pela muralha. Quem vai comigo? – Define Haia.

– Cada bonde para um lado, então. A não ser que a negada esteja com medo de ir sem nenhum Bruma na planície. Aí eu e Eris vamos com vocês. – Cutuca o líder da missão.

– Vai com eles, Ferro. Ele tem medo do escuro. Segura a mão dele. – Provoca Haia.

– Quero que se foda o que tu vai fazer, cara. – Rebate Stut.

– Qual é, negão? Tá puto? Hahaha! – Diz Ferro, rindo.

– Eu sou puto. – Responde Stut.

– Puta que o pariu, Ferro… – Lamenta Suva.

– Então eu e Eris vamos com o negão, porque ele ficou puto. – Ironiza Ferro: – Vai o mago Merlin e o campeão pela muralha, com a caixinha.

Arley Vanila, que até então estava calado, simulando movimentos de luta como se treinasse sozinho, se manifesta:

– Vou pela planície. Quando o bonde da planície sair, me avisem.

Melvis Merlin também resolve finalmente dar sua opinião:

– Vamos todos juntos, por um caminho. Se o Ferro quiser ir por outro, ele que vá.

– Acho que se dividirmos o grupo aumentamos as chances de completar a missão. E já disse que pela Muralha eu não vou. – Replica Stut.

– Amarelão! – Exclama Merlin.

– Amarelão? Pela planície eu vou até sozinho, porra… – Rebate Stut.

– Amarelão da Muralha. – Insiste Merlin.

– Eu e a ruiva vamos com o negão ou com o campeão. Decidam aí quem gosta mais do Tio Ferro! – Debocha o líder da missão, dando uma forte tragada no charuto que já estava no fim: – Diz aí, campeão? Vai comigo?

– Eu e Merlin vamos pela Muralha. Vai com a gente? – Devolve Haia: – Partiu, patrão?

– Campeão, tu vai pela muralha com o Mago Merlin. Tranquilo? – Questionou Ferro.

– Tranquilo. Tio Ferro amarelou pra muralha. Deve tá encantado com o negão. – Provoca Haia.

– Tô só vendo quem precisa mais do tiozão aqui. – Rebate Ferro: – Negão não tá falando nada, e o campeão fala pra caralho, mas não age.

– E você tá igual ao campeão, Ferro… – Diz Merlin.

– Ô mago Merlin, tu não vai com o campeão? Ou tá esperando o tio também? – Devolve Ferro.

– Ia não, vou. – Afirma o mago necromante.

– Toma cuidado hein, ruiva… – Diz Haia, voltando-se para Eris.

– Ô campeão, tô sentindo que você não quer largar a gente. Tem certeza que tá tranquilinho? – Provoca Ferro.

– É que que gosto da ruiva, tio… – Zomba Haia.

– Então a gente vai com você, campeão. Aí tu pode ver a ruiva e ficar mais tranquilo. Tá muito tenso… – Debocha Ferro.

– Ele vai servir o cafezinho, ajudar na mijação e chamar de chefia… – Ironiza Stut.

– Pô, negão… Se tu quiser, o ajudante pode ser você. – Diz Ferro, zombeteiro.

– Tá com ciúmes, Stut? – Questiona Haia.

– A verdade é que vocês já falaram cem vezes que iam partir e continuam aqui olhando pro tio, porra… É falta de tchau? – Questiona Toni Ferro, antes de se explicar: – Vou abrir o jogo com vocês, molecada. Quem sair na frente vai atrair a atenção dos alamanos. Negão e campeão já disseram que iam sair daqui mil vezes. Mas já vi que vão esperar o tio.

Irritado, Stut Bier resolve partir com Eril, Suva e Arley. Já estava de madrugada. Ferro, Eris, Merlin e Haia ficam em Echen, e o líder não dava nenhum sinal de que estava com pressa. Ao contrário, já estava preparando outro cigarro enorme de Dente de Leão.

– Que horas vamos sair, Ferro? – Perguntou Haia.

– Fica suave, campeão… Mas se quiser pode meter o pé. – Responde Ferro, acendendo o charuto.

No fim da madrugada, o grupo que saiu cavalgando pela Planície dos Reis já conseguia ver as muitas tochas dos acampamentos alamanos que fechavam o vale. Eram pelo menos uns 15 postos de controle, a uma distância de menos de uma milha entre eles. Não havia como saber quantos bárbaros guardavam cada acampamento, mas era fácil perceber o quão arriscado seria tentar atravessar aquela barreira.

– O babaca do Ferro já sabia dessa porra. Ele só não falou. – Lamentou-se Stut: – Vamos ter que voltar e ir pela Muralha…

[Continua: 97. Os Mendigos da Muralha]

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