60. Luta no Charco

Harpias da Guarda alada da Ilha de Vulkan.

[Antes: 59. No Caminho da Cidadela]

– Joga logo outra flecha, porra! – Grita Sif.

– Já era! O negócio era continuar na surdina… – Lamenta Lend.

– Nem todo mundo tinha concordado com o plano ainda. – Reclama Hagen.

– Acho que ainda não nos viram aqui… – Ressalta Jon.

– Então não vou lançar outra. Agora temos que ficar no entoque. – Diz Vandam, dando uma piscada para Bia, que retorna com cara de nojo.

– O que foi? Vou dar uma surra de pau mole na tua cara… – Faz piada o vrúngio, antes de comentar: – Provavelmente vai vir alguém só pra dar uma olhada.

– Acho melhor a gente sumir… – Sugere Lend, ignorando as provocações de Vandam.

– Se eles têm esses fogos, deve estar cheio de bomba nesse canal. Vão explodir geral. – Diz Vandam.

– São fogos visuais. Não explodem. – Responde Bia.

– Quem faz brilhar, faz explodir também. – Rebate Vandam.

– Os fogos chamaram reforços. Em breve vai ter uma galera aqui passando um pente fino. De repente é melhor mesmo lançar outra flecha. Depois a gente monta no porco. – Repensa Lend.

– Vou atirar outra flecha então. Beleza? – Pergunta Vandam.

– Acho que sim. Alguém tem outra ideia? – Responde Lend.

– Cadê você, Vandu? Tu não é o líder? – Diz Vandam.

– Por mim tentamos outra flecha. – Insiste Sif.

Enquanto isso, Vandu estava olhando atentamente ao redor, medindo a distância que estavam para o posto, o tamanho e o material do canal, tudo. Estavam com água até a cintura em uma vala rasa feita de terra cavada no meio das plantações de arroz, com pouco menos de dois metros de profundidade e quatro de largura. O calor do fim da manhã era quase insuportável.

– Temos de avançar. – Diz Vandu.

– Pra avançar precisamos saber saber de onde virão os reforços. – Rebate Hagen.

– Ficar parado aqui e esperar o reforços deles chegar é que não dá, entende? – Reforça Vandu.

– Tá doido? Não falei isso. Talvez tenhamos de recuar e tentar outro caminho. – Sugere Hagen.

– Quero chegar naquele posto. Quero ver como esses caras produziram aqueles fogos. Lend pode fazer uma fumaça forte, e Bia chama alguns pássaros para atrapalhar a visão deles. Eu, Hagen e Vandam corremos na frente pra sair na porrada com os guardas. Não sei se vão concordar, mas se quiserem posso ir sozinho. – Diz Vandu, antes de reiterar:

– Não podemos ficar parados aqui. Vai morrer todo mundo.

– Também acho que temos de ir no posto. – Concorda Lend.

– Se tiverem alguma ideia menos perigosa, aceito opções. – Diz Vandu, insistindo: – Pensa numa forma de colocar dois ou três guerreiros nesse posto, Lend.

– Os caras ainda não nos viram. – Diz Tudur, observando atentamente a movimentação no posto. E continua: – Por mim, vamos ao posto na surdina, até onde der, e depois partimos para o ataque.

– A ideia é boa. Vamos tomar de assalto. Mas o que os magos podem fazer para ajudar? – Questiona Vandu.

– Alguma camuflagem. – Pondera Tudur.

– Só se forem as brumas. Precisamos guardar a Aurora para quando acharmos a “deusa”. – Diz Sif.

– Isso. – Concorda Vandu, já escalando a tropa de choque: – Quem vai? Quem corre mais aí?

– Tô dentro. – Diz Kreuber.

Lend solta uma bruma na área, e Vandam nem espera ser chamado. O monge sai correndo em direção ao alvo, de arco em punho, já com uma flecha amarrada a uma bruma de sono. Vandu segue logo atrás, com Hagen e Kreuber, exclamando:

– É matar ou morrer! Mas vamos tomar esse posto! Precisamos saber como fazem esses fogos! Os magos tem que estudar isso! Botar a bunda na reta ninguém quer!

– Posso arremessar minha espada assim que chegar mais perto. – Diz Hagen.

Assim que um dos guardas aparece, Vandam solta a flecha, que acerta em cheio no peito do sujeito, já liberando o gás narcótico. Um dos guardas sai da cabine, mas acaba dormindo por conta do efeito da bruma.

– Puta que o pariu! Boa, caolho! – Diz Hagen.

De dentro do posto, o terceiro lança uma flecha na direção de Vandam, mas o monge consegue desviar do projétil em pleno movimento, de forma espetacular.

– Porra! Vou comer esses caras vivos! – Grita Vandu.

O vrúngio lança outra flecha, mas o guarda está protegido no posto, atirando por uma seteira. Kreuber agora segue na frente, com Hagen, Vandu e Vandam atrás. O nativo usa novamente o arco, e acerta em cheio a barriga do Arauto de Milenor, que cai no chão. Seria um golpe fatal, não fosse a Armadura Escarlate. Vandam acerta uma flecha com a bruma de sono na cabine, mas o guarda resiste, e ataca novamente. Um flecha acerta o ombro de Kreuber.

– Nossa! – Exclama Vandu, que continua correndo.

Enquanto isso, Lend percebe que cinco daqueles animais alados decolaram da cidadela a leste e voam na direção do posto:

– Bia, tenta entrar em contato com esses bichos, para atrapalhar o voo!

Bia escuta a sugestão, mas se apressa para cuidar do ferimento de Hagen, que se contorcia no chão. Enquanto isso, Vandam pede a Lend mais uma bruma, e e ele corre até o monge para entregar mais algumas cargas, junto com Tudur e Ben Sif.

– Galera, precisamos montar no porco urgente! – Alerta o chefe da Bruma.

O gigante tigunar finalmente alcança o posto e ataca o guarda, que erra uma flechada e usa uma lança para se defender do primeiro golpe de Vandu, que grita:

– Pai da guerra, me proteja!

Com uma porrada agressiva na têmpora, o Gargo Gigantrix nocauteia o guarda:

– Haaaaa! Aqui é Vandu, porra!

O tigunar procura no posto pelo material dos fogos, mas só encontra cinzas e fuligens num recipiente, além de arcos, flechas, comida e água. Depois de aplicar a poção de Virgo no Cavaleiro Escarlate, Bia ajuda Kreuber a retirar a flecha do ombro, e também usa seus dons para tratar o ferimento. Como a guarda alada já estava bem próxima, a sacerdotisa tenta se comunicar com os animais, iniciando com aquela sucessão bizarra de sons e movimentos. Dessa vez, no entanto, ela interrompe brevemente o ritual, e declara assustada:

– Eles já sabem que estamos aqui, e vieram preparados. As harpias, como os nativos chamam suas montarias, estão protegidas contra os meus feitiços!

– Temos que sumir com os corpos! – Grita Vandam, sugerindo: – Vamos nos esconder nas plantações de arroz!

– Não dá, cara! Temos que fugir de cinco guardas alados! Se carregarmos três defuntos, vamos nos foder com certeza! – Rebate Lend, sugerindo: – Se é pra fazer necromancia, arranca uma cabeça e leva!

As harpias se aproximavam com rapidez. Vandam se resigna:

– Não vai dar tempo! Vamos meter o pé! Vandu! Coloca esses caras em pé no posto! Pode ser que os guardas acreditem que ainda estão vivos!

– Boa, Vandam! – Grita Lend, antes de mudar de ideia. Àquela altura, os nativos com certeza já tinham avistado a todos ali, e seguiam com sede de sangue para o local.

– Então a porrada vai comer! – Grita Lend.

– É isso! – Responde Vandu.

– Vou lançar uma bruma pra dificultar a visão deles, e sebo nas canelas! – Propõe Lend.

– Tá certo! A bruma vai impedir que mirem na gente! – Diz Vandam.

– Mas vai atrapalhar a gente também. – Ressalta Lend, já espalhando a fumaça negra ao redor.

Vandam corre até o posto, e se entoca com Vandu na cabine de madeira. Os demais tentam se esconder nas plantações de arroz, agachados na lama. Bia sente que as harpias passaram a voar em círculos, ao redor da área tomada pela fumaça negra.

– Os malandros vão esperar a bruma se dissipar. – Diz Lend, preocupado.

– Temos que fazer esses caras pousarem, os então vamos ficar na merda. – Diz Vandam, já gritando para Lend:

– Não deixa essa bruma acabar não! Manda outra!

Lend continua produzindo a fumaça negra, enquanto o grupo pensa no que fazer. Sem opções, o chefe da Bruma sugere utilizar uma bruma de brilho, de forma a ofuscar a visão dos perseguidores por alguns segundos, para que tivessem alguma vantagem. Não havia alternativas melhores. Quando a névoa se dissipa, Lend faz um clarão extremamente forte, e o resto do grupo protege os olhos.

O brilho fulgurante atordoa a maioria das harpias, que são forçadas a pousar no charco de arroz. Apenas um dos guerreiros nativos consegue se manter no ar, e voa na direção do posto. A tática tinha resultado melhor do que o planejado. Com dificuldades para mirar, os nativos largam os arcos e empunham suas lanças. Vandu, Vandam, Kreuber, Hagen e Tudur saem de seus esconderijos e partem para a luta no terreno alagado, cada um numa direção. O guarda que ainda estava voando acerta uma flecha na coxa de Vandam, que devolve a gentileza acertando a harpia, que tomba ao chão. Bia corre na direção do monge para ajudá-lo com o elixir, enquanto Lend e Sif também se levantam para lutar juntos contra um vulkânico.

– Me dá logo essa poção, Bia! Porra!  – Grita Vandam, sangrando, com uma flecha enorme enterrada na perna. Como não poderia deixar de ser, ele aproveita para um gracejo: – Aproveita e dá uma massageada na minha rola…

Hagen lança sua espada no pescoço do nativo que avançava em sua direção, com precisão absoluta. Lend e Sif tentam usar uma bruma do sono para desmaiar um dos inimigos, mas o sujeito resiste. O Cavaleiro Escarlate então decide partir na direção do guarda que ameaçava os magos, sem tempo de recuperar a espada escarlate. As lutas se desenrolam com dificuldade no terreno alagado.

De primeira, Vandu leva uma porrada no pescoço, desferida com a parte lateral da lança do adversário, muito mais rápido. Se fosse uma estocada, seria vala. Jon Hagen leva vantagem inicial no combate contra o nativo, mas Tudur e Kreuber fazem lutas equilibradas. Vandu sangra com outro golpe que rasga a pele de seu ombro, e os magos correm para ajudá-lo.

O Cavaleiro Escarlate leva dois golpes consecutivos, enquanto Halberic Lend consegue derrubar o vulkânico que lutava com Vandu, chegando de surpresa. Jon Tudur começa a levar vantagem na luta, acertando um bom golpe contra o inimigo. Com a vantagem numérica, Vandu, Lend e Sif encurralam e matam um dos nativos, mas Hagen acaba sendo derrubado. O mesmo acontece com Kreuber, que ainda sofria com dores no ombro.

Enquanto isso, Tudur também desfere uma pancada brutal na cabeça do rival, com o cabo da espada hevelgar, que o deixa atordoado. Vandu e os magos se dividem para ajudar Kreuber e Hagen, que estavam caídos. O gigante tigunar corre para defender o cavaleiro das Terras Altas de uma estocada que certamente seria fatal, mas os magos não têm a mesma sorte. Com um violento golpe rodado de sua lança longa, o nativo nocauteia Lend, derruba novamente o escarlate e atravessa o corpo do necromante, que cai morto instantaneamente.

– Não! – Grita Vandu, desferindo com mais raiva ainda um golpe contra o guarda que tinha derrubado Kreuber, que cai desacordado.

Jon Tudur também aproveita a vantagem para matar seu oponente com um golpe seco no estômago e tenta correr desesperadamente para salvar Hagen, sem sucesso. Caído, o Arauto de Milenor recebe uma estocada firme nas costas, e vomita sangue até morrer. Abalado, o Cavaleiro de Hevelgar também recebe uma forte pancada no ombro, e recua para se recompor.

– Nãooooo! – Berra Vandu mais uma vez, percebendo a segunda baixa no grupo.

O gigante tigunar e o cavaleiro de Terras Altas correm para cercar o nativo que tinha matado Jon Hagen e acertado Tudur. Com muita raiva, Vandu decepa a cabeça do guarda, aproveitando um golpe preciso que Kreuber tinha desferido no sujeito.

Pela primeira vez naquela missão, a equipe perdia integrantes. Dois de uma vez. Não haveria poção de Virgo que desse jeito nas feridas fatais de Jon Hagen e Ben Sif. E Halberic Lend ainda estava desacordado, devido a uma porrada forte na têmpora. Para piorar a situação, Vandam e Kreuber tinham sido flechados e já não conseguiriam lutar com força máxima.

A situação era crítica, e o tempo agora era mais um inimigo. Os seis sobreviventes se entreolham, entre assustados e raivosos. Mas, pelo menos, quatro harpias seladas tinham sido deixadas no charco, e estavam prontas para uma fuga.

[Continua: 61. Atravessando a Cratera]

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