110. Haia e o Pajem
Antes: 109. Haia e Arley na Praça
“Três dias pra comprar um medalhão… Ainda bem que tenho mais seis desses pra vender. Se ele levar, vou dar uma caneca de brinde” – Pensou a bruxa, exibindo um sorriso amarelo, enquanto aturava o papo mole do cavaleiro da Bruma.
Haia faz-se de desentendido, e mais uma vez se afasta da tenda principal. Quando o pajem se aproxima para vigiá-lo, ele volta à carga do interrogatório, mais agressivo:
– Não entendo você, meu jovem… Você me conta que a esposa de um dos senadores mais ricos e influentes de Dankel fugiu com um amante, e agora se incomoda se eu quiser saber mais sobre isso? Para de besteira e me conta logo a verdade. Tô curioso demais, moleque… – Haia solta uma risada, e exclama:
– O cara foi traído, porra! Me fala como ficou a família!
– Perdão cavaleiro, mas não posso contar mais nada para forasteiros.
– Tá bom, parceiro… Duvido que você não queira conversar sobre isso. Fico imaginando como ele está se sentindo… Coitado.
O pajem apenas olha para Haia, com uma expressão incrédula.
– Já imaginou? Hagalaz que me livre… – Continua Haia – Eu aqui me solidarizando com o traído e você cheio de rancor no coração, meu jovem…
– Senhor, vai querer visitar mais algum lugar ou vai ficar falando sem parar da vida dos outros? Seu comportamento é suspeito, e os guardas estão de olho na gente.
O pajem então disfarça e começa a sussurrar para Haia:
– Todos sabem que aconteceu algo de ruim com Janus, e que é bom para a saúde não saber de mais nada além disso… Compreende, senhor? Pode parar de me importunar com essas perguntas? Sou apenas um pobre serviçal do senado.
– Tranquilo, amigo. – Responde Haia, no mesmo tom.
– Se me pegam dando informações para um forasteiro, serei enforcado.
– Mas quem mais saberia dessa conversa? – Insiste Haia.
– Que conversa? Não se de nada, senhor. Gostaria de ir a algum outro lugar ou podemos voltar ao camarote? – Responde o pajem, voltando ao tom normal.
– O que você me indica conhecer?
– Nenhum lugar.
– Gosto de beber e mulheres.
– Volte para o camarote então.
– Lá é tudo muito vigiado…
– Todos os escudeiros dos competidores estão assistindo ao torneio, menos o senhor e seus amigos. Com certeza estão desconfiados. Acha que os senadores são trouxas, senhor? – O pajem volta a sussurrar.
– Te entendo, jovem. Não quero lhe causar problemas. Vou chamar meu amigo para voltarmos. – Conclui o vulkânico, entregando ao pajem uma moeda de ouro quando aperta sua mão.
Enquanto isso, a negociação de Arley com a bruxa tinha avançado bem:
– Quero dois maços desse fumo de pele de cobra. A propósito, qual seu nome?
– Mila. Mila Yumanots.
– Obrigado, Mila. Quem me dera ter mil e uma noites de amor com você…
– Tudo tem preço, tigunar. Quanto tens pra me comprar?
Arley tira de um bolso mais cinco moedas de ouro:
– Quanto eu consigo com isso?
– As meninas da taberna costumam cobrar uma moeda para os forasteiros. Por cinco, minha tenda será toda sua.
Arley não perde mais tempo e arrasta Mila para dentro da tenda. Haia percebe a movimentação de longe e se aproxima novamente.
Uma bruxa velha sai de seu aposento e se insinua para o vulkânico:
– Quer alguma coisa, brumoso?
Haia faz uma cara de nojo e nem responde. Agora ele teria de esperar Arley fazer o serviço. Conhecendo o negão, só restava torcer pra não demorar tanto.
Continua…
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