109. Haia e Arley na Praça

Rua da praça principal de Dankel.

 Antes: 108. As Mansões de Dankel

– Brujas del lago – Respondeu secamente o vendedor, enquanto já voltava sua atenção para outro possível cliente, o que incomodou Haia Kahn.

– Qual o seu conselho quando eu for lá?

O vendedor estranhou a pergunta:

– No tengo consejo, cabrón. Quieres piezas mágicas? Adelante y pregunta.

– Todo vendedor tem uma indicação ou conselho, “cabrón”.

– Entonces mi consejo es: no mires a los ojos a las brujas – Disse o vendedor, com um sorriso irônico.

Arley apenas olha para Haia, entediado. O vulkânico não desiste:

– É pra evitar ou não olhar pras bruxas, cabrón, decide aí…

– Fue una broma, velga amigo. Puedes mirar sin miedo.

Arley se encaminha para outra barraca. O pajem alerta, também no dialeto oriental:

– Oye, vuelve aquí! Si quieres alejarte, otro paje irá contigo.

Arley retorna. Juntos, eles decidem ir até a barraca das bruxas.

– Achei que havia um senador em clima bem diferente dos demais lá no camarote… – Diz Haia para o pajem.

– Era Janus. Ele está preocupado porque sua mulher fugiu com um amante. É o que todos estão dizendo. – Responde o jovem, dessa vez se esforçando no dialeto ocidental.

– Sério? – Diz Haia, fingindo surpresa – E como a família dele reagiu a isso?

– Janus agora não tem mais família… – Responde o pajem, no momento em que chegam à barraca das bruxas. Lá, uma das mulheres sai de dentro da tenda exibindo tetas enormes, e oferece cigarros de palha para os visitantes. Haia e Arley fingem que não viram.

– O que você indicaria para alguém que aprecia objetos místicos? – Pergunta Haia, passando os olhos pela miríade de amuletos, bugigangas e mandingas exibidas ao redor da tenda.

– O que veio fazer aqui, brumoso de Darlands? – Devolve a bruxa, num velga ocidental perfeito.

– Pelo seu sotaque, presumo que você não seja daqui. Acertei? – Replica Arley, sem ninguém responder ninguém. Os três se entreolham.

– Que sotaque você prefere, cavaleiro? Os camponeses de Mastrik? Ou dos pescadores de Joy Divile? – Treplica a bruxa, misturando perfeitamente diversos sotaques do continente, enquanto responde.

Haia se afasta para a beira do lago, e quando o pajem se aproxima, ele volta a puxar assunto:

– Como o resto da família de Janus reagiu a tudo isso?

– Estão todos envergonhados. Nunca mais saíram de casa.

– Alguém visitou a família dele depois disso?

– Eu não sei.

– Janus é querido na cidade?

Antes que o pajem responda, a bruxa grita na direção de Haia:

– Pergunta pra ele a receita de arroz de fubá da família!

Haia estranha. Arley sorri, entendendo o sarcasmo, e enfim responde à bruxa:

– Pode falar em velga mesmo comigo. Entendo melhor. E esse cigarro aí? É do bom mesmo?

– Quer dar um pito, tigunar?

– Gostaria sim.

A bruxa então acende o cigarro de palha num braseiro e passa a Arley:

– Legítimo fumo de pele de cobra caranguejeira. Fortalece o espírito e anima o corpo.

Arley acena respeitosamente com a cabeça, enquanto observa o cigarro de palha enorme aceso já em suas mãos.

– Por 5 moedas de prata, vendo-lhe um maço com 50 desses. – Propõe a bruxa.

Arley dá uma tragada meio desconfiada, mas logo começa a sentir seu espírito fortalecido e o corpo animado. Ele pega uma moeda de ouro e mostra à bruxa:

– Tem troco?

– Por que você não leva dois maços?

– Você teria outra coisa pra oferecer?

Exibindo ainda mais suas tetas deliciosas no decote, a bruxa provoca:

– Se você tiver mais dessas moedas, podemos negociar…

Haia se aproxima e interrompe a negociação:

–  Se eu quisesse presentear um amigo que gosta de objetos místicos, você teria algo para me oferecer?

– Tenho exatamente o que você quer. Um legítimo Medalhão de Magiar. Mas não está à venda, a princípio.

– Não está à venda?

– A princípio, não. Você sabe como é.

– E caso estivesse…

– Se estivesse, teria um preço. Mas não tem preço.

– É especial pra você?

– Para todos que veneram Magiar.

– Não quero ofendê-la, mas se eu oferecesse um valor você poderia me dizer se aceita?

– Qual valor?

– Se eu insistir nesse valor, você aceita?

A bruxa e Arley se entreolham, impacientes.

“Porra, Haia. Dá um preço e pronto” – Pensou o tigunar, já salivando com as curvas da jovem bruxa.

Continua: 110. Haia e o Pajem

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