108. As Mansões de Dankel
Antes: 107. Desafio na Porrada
O pajem que conduzia Ipa Bier e Melvis Merlin pelas ruas arborizadas da cidadela era pouco mais que um adolescente, com trejeitos efeminados. Após uma caminhada agradável por uma rua arborizada, calçada com pedras perfeitamente talhadas e decorada aqui e ali com canteiros de flores e espécies exóticas de todos os lugares conhecidos de Asgaehart, o grupo alcança os magníficos portões de metal que guardam a entrada da colina suave onde moram os senadores. Os dois guardas que seguem à espreita, de longe, já nem tentam disfarçar a vigilância.
– Um lugar desse sempre tem uma lenda sobre algum tesouro! – Exclama Ipa, tentando dar corda no moleque. Merlin apenas olha torto, achando a estratégia meio descarada.
– Aqui não tem lenda, senhores! Todos os senadores são riquíssimos! Deem uma boa olhada nas verdadeiras obras de arte que são essas residências! Aquela mais alta é de Andleh, e ao seu lado a mansão de Kamungiwa, toda em pedra branca, de Cibel. Veem aquele casarão à esquerda, com um chafariz? É de Numbigus. E o templo com jardins maravilhosos é a casa de Sansimila! Mas nada se compara com a exuberância do palácio de Boquisosi… – Recita o jovem, apontando para uma enorme construção eclética e luxuosa no ponto mais alto da colina, para onde levam todas as ruas sinuosas que cortam os vastos gramados que separam os jardins entre as casas.
– Realmente imponente. Parece que ele deve dar muitas festas para ostentar sua riqueza… – Comenta Bier, apreciando o que lhe parecia ser de fato um ótimo lugar para fazer um churrasco.
– As festas de Boquisosi são famosas em todo o oriente!
– E como a gente faz pra ser convidado pra essas festas?
– Logo após o Veroforte, o senador certamente convidará a nata da cidade para comemorar com o campeão. Assim, torçam pelo campeão de vocês… – Completa o pajem, com uma dose de sarcasmo.
– A caminhada me deu sede. Leve-nos a uma taberna, por favor. – Pede Ipa, enquanto já pensava em algum plano. Aquele senador filha da puta devia ter algum lugar escondido ali pra guardar os tesouros oriundos de atividades clandestinas e dos saques patrocinados contra os povos miseráveis ao redor.
No caminho de volta, Ipa pegunta ao pajem se ele já esteve na mansão de Boquisosi.
– Err… Nunca entrei lá, na verdade. – Admite o moleque, meio envergonhado.
– E gostaria de conhecer?
– Sim! Claro que sim! – Diz o pajem, com os olhos brilhando.
– Então você também deveria torcer para o nosso campeão… Quem sabe o senador não escala você para nos acompanhar na festa?
Pela expressão do pajem, Bier sabia que tinha conseguido o que queria.
– Já entrou em alguma outra mansão?
– Sim, já fiz entregas na mansão de Andleh, e um dia fui chamado para servir os convidados em um jantar de Numbigus…
– Nossos castelos na Terra Vélgica costumam ter muitas torres e porões. Vi algumas torres aqui, mas e os porões?
Merlin volta a entortar a cara. O pajem responde com naturalidade:
– O salão principal do senador Andleh tem duas lindas escadarias para o andar superior. E Numbigus gosta de água, água por toda a parte! Mas um porão úmido e fétido jamais haveria ali! – Responde, enojado.
– Faz sentido. Me diz outra coisa: tem algum lugar barra pesada aqui? Toda cidadela em Asgaehart tem aquele canto onde se reúne os marginais, mercenários, assassinos…
Merlin arregala os olhos. Ipa tenta consertar:
– Preciso saber, pra não dar mole de passar perto, né?
O pajem reage de forma quase histérica:
– Já não lhe disse que aqui não faz parte da sua terra selvagem? Os vagabundos mais perto daqui estão em Barbeij, do outro lado do desfiladeiro!
Já na praça central, Merlin aproveita para parar em uma das barracas, onde adquire dois conjuntos completos de roupas típicas do povo local. Quando chegam à taberna, Ipa cochicha para Merlin:
– O cara deve guardar o tesouro nos andares mais altos. Temos de dar um jeito de entrar na festa.
– O jeito é ganhar o Veroforte. – Sussurra Merlin.
– Esse é o jeito “fácil” – Responde Bier – “Difícil” vai ser penetrar essa festa se a gente não ganhar.
No exato momento em que Ipa dizia isso, Xpeditus era nocauteado pela segunda vez na fase preliminar do torneio. Esse era o jeito “fácil”.
1 thought on “108. As Mansões de Dankel”